Estava assistindo uma reportagem sobre as pessoas que sobrevivem do lixão.
Uma das repórteres, que provavelmente nunca passou necessidade, para a sorte dela, entrevistava uma mulher que catava coisas no lixo para se alimentar e alimentar a sua família.
A pobre mulher, para a alegria dela, achou um danone ainda lacrado...e ela toda alegre se deliciava com ele, já que era raro achar algo assim.


Nessa hora eu me revoltei com a infame pergunta da reporter:
- Você viu a data de validade? Não se importa se isso está vencido?


Com certeza é a primeira coisa que passa na cabeça daquela mulher que come coisas do lixo para não morrer de fome.
Outro dia eu os vi na rua. Era um casal. Eu os observava. Eram velhos e de raças diferentes.
Era notável como o tempo impiedosamente os castigara. E de como a vida, também impiedosamente, ajudara nesse castigo. A vida e o tempo não ligam para idade e nem para cores.
Estavam os dois ali. Esperavam um milagre, esperavam uma mudança de vida, esperavam que algo diferente acontecesse... E eu estava ali também, apenas observando. Como depois de tanto tempo eles ainda esperavam e mantinham a esperança?
Eu não sei, mas os admiro por terem apanhado tanto da vida, mas terem persistido e o mais importante, terem persistido com dignidade.
Não ouvi suas vozes. Apenas se olhavam, mas em cada olhar percebi inúmeras frases sendo lançadas e respondidas instantaneamente com outro olhar.
Tudo o que eles carregavam naquela sacola, eram seus sonhos, seus medos, suas frustrações, suas expectativas, que se mantinham vivos dentro dos seus corações.
Naquele dia eu tirei muitas conclusões. E achei incrível como dois estranhos podem mexer com você.

...

                Durante cinco minutos eles mudaram a minha vida.